sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Física do Ideal



Maria Nogueira Machado Arcanjo*



Embora tu sofras o mal das montanhas
E te chegue a vertigem das alturas,
Sobe.
Embora os cardiogramas te amedrontem
E todos os barômetros te mandem parar,
Sobe.

É bom fugir da falta de horizonte;
É doce o prazer de sorrir lá no alto.
Sobe.
Tão bom é sentir que ainda existe beleza,
Tão doce a ventura do cimo do monte...
Sobe.

Não penses que és maior,
Quando vires teus irmãos, pequeninos, no vale;
Não penses que és melhor,
Quando vires teus amigos resvalando na encosta.

Grão de poeira.
Átomo.
O nada de sempre
Tu és.

Mas, sobe.
Aprende a ter visão do longe e do além.
Procura ser bem grande nas ações.
Ninguém se arrepende de ter subido.
Quem é que não gosta de fugir da terra?

Sobe.
Deixa a planície para os fracos.
É melhor morrer no alto da montanha
Do que viver-covarde!
No sopé!

(ARCANJO, Maria N. M. Caminhada.
Fortaleza: Expressão, 2008).

Não somos três,
somos duzentos

Clauder Arcanjo
Quando começamos éramos três.
Hoje, não somos três, não estamos sós,
Vários estão conosco.
Em lugar de três, duzentas semanas
Depois, um universo de novos amigos,
De novos sonhadores, de novos gestores.
Não somos mais apenas três, somos duzentos.
E esses duzentos logo, logo se farão trezentos,
Quatrocentos, mil, um milhão... Gente mais gente.

Um pouco sobre a autora:

Maria Nogueira nasceu em novembro de 1929, em São Pedro do Cariri, Ceará. Formou-se em Medicina na Universidade do Recife, em 1955. No ano seguinte, casou-se com José Arcanjo Neto, colega de turma, e foi morar em Santana do Acaraú-CE. Tiveram sete filhos. Médica, educadora e poeta, reuniu nessa obra toda a sua poética, até então inédita em livro.
Se não choraste numa aula de anatomia diante das faces verde-amareladas de fome das crianças pobres de Pernambuco, não sabes que as feridas continuam sangrando pelo verso.
Adverte-nos seu filho José Estevão Machado Arcanjo, em texto para as orelhas do tomo.

Fonte: Correio da Tarde

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ando Por Aí

Meu caminho não é de pedregulho
Meu andar é devagar,
Você corre, corre e nunca chega
Por que a pressa de chegar?

Ando por aí,
Em passos firmes quero chegar
Não é em vão o meu caminhar
Em meu destino vou estar.